COP 30, crise ambiental e a realidade da baixada fluminense

Rio de Janeiro, 25 de novembro de 2025
Baseado no texto do Professor
Jeferson Romano, da Baixada Fluminense

Coleta irregular de lixo tem consequência em córregos e rios, em Duque de Caxias | Imagem de Leonardo Pereira/SMO

A Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30) reacende expectativas. Ela também promove debates sobre o futuro ambiental do planeta. A COP 30 reúne líderes mundiais, organizações e movimentos sociais. O objetivo é traçar metas para conter o aquecimento global. A conferência também discute justiça climática e promove compromissos em escala internacional. No entanto, essas discussões ganham notoriedade internacional. Apesar disso, realidades como a vivida na Baixada Fluminense, no Estado do Rio de Janeiro, permanecem fora dos holofotes. Essa situação é especialmente perceptível em cidades como Duque de Caxias e Belford Roxo. Isso evidencia os limites do capitalismo em relação à agenda global diante das crises locais.

A Baixada Fluminense é um retrato da emergência ambiental cotidiana. A região, marcada por intenso caos. Uma urbanização desordenada marcada por histórico de negligência pública e corrupção. Enfrenta problemas ambientais que afetam diretamente a população trabalhadora. A crise criada pela elite racista se manifesta em múltiplas dimensões. Isso inclui rios poluídos e expansão de complexos petroquímicos. Também abrange saneamento básico precário, acúmulo de lixo e recorrentes desastres urbanos, como enchentes e deslizamentos. Esses desafios, longe de serem exceções, são parte do cotidiano de milhares de famílias. Uma peça importante na manutenção da desigualdade social

O modelo de desenvolvimento implantado na Baixada Fluminense foi, historicamente, marcado por uma lógica exploratória e excludente. Grandes empreendimentos industriais e logísticos, como refinarias e polos petroquímicos, foram instalados sem preocupação com impactos ambientais. Não houve a devida atenção aos efeitos sociais. O resultado é a degradação dos ecossistemas locais. Há destruição de áreas de mata, assoreamento de rios e contaminação do solo e da água. Esse processo aprofundou desigualdades e comprometeu as condições de vida da população local. Esse é o preço do desenvolvimento capitalista que a massa trabalhadora paga.

Os rios da Baixada, como o Iguaçu, Sarapuí e Meriti, tornaram-se símbolos de descaso. O despejo de efluentes industriais e resíduos químicos transformaram esses cursos d’água em canais enegrecidos de poluição. Também falta tratamento de esgoto. A expansão de refinarias e indústrias petroquímicas aumentou a contaminação do ar e da água. Isso ocorreu especialmente em Duque de Caxias. Essa expansão trouxe riscos para a saúde pública e o meio ambiente. O odor constante, doenças respiratórias e a morte de espécies aquáticas são exemplos do impacto direto na vida dos moradores.

O saneamento básico ainda é um privilégio para poucos na Baixada Fluminense. Muitas comunidades convivem com esgoto a céu aberto, ausência de coleta regular de lixo e depósitos de lixos clandestinos. A manipulação e armazenamento inadequado dos resíduos sólidos resulta em entupimentos, proliferação de vetores de doenças e degradação ambiental. A crise do lixo não é apenas um problema sanitário. É também um reflexo de uma política pública eficaz de controle demográfico. Esse controle se combina com o controle social, agravando a vulnerabilidade objetiva de bairros inteiros.

Trabalhadores moradores da Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, resgataram e enfileiraram mais de uma centena de corpos assassinados pelas forças policiais do Estado do Rio de Janeiro. Imagem do Gabriel de Paiva, Agência O GLOBO.

As chuvas intensas frequentemente transformam ruas em rios, com enchentes que arrastam casas, móveis e esperanças. Deslizamentos em áreas de encosta, ocupadas por falta de alternativa habitacional, são tragédias anunciadas. Falta planejamento urbano. A fiscalização é insuficiente. Investimentos em infraestrutura preventiva são necessários. Tudo isso evidencia um plano macabro para ceifar vidas a partir de desastres naturais. Enquanto as negociações climáticas globais avançam nas salas da COP em Belém, a população local enfrenta desastres urbanos. Esses desastres são agravados pela ganância de mais lucros.

A crise ambiental na Baixada Fluminense tem uma ligação intrínseca com um modelo econômico exploratório. Esse modelo privilegia o lucro de grandes corporações. Faz isso em detrimento do bem-estar coletivo. Indústrias poluentes se concentram na região. O trabalho está precário. As pessoas não têm acesso a direitos básicos, como moradia digna, reforma agrária, saneamento, educação e saúde. A degradação ambiental, assim, não resulta apenas de escolhas técnicas equivocadas. Ela é uma expressão concreta das desigualdades estruturais que marcam a região.

Diante desse cenário adverso, a mobilização da massa trabalhadora emerge como força fundamental na luta por direitos e ambiente saudável. Movimentos comunitários, associações de moradores, coletivos ambientais e sindicatos têm denunciado a degradação. Eles têm exigido políticas públicas. Além disso, promovem campanhas de conscientização. A luta por saneamento e pela despoluição dos corpos hídricos é crucial. Isso inclui rios, canais, lagos e lagoas. Moradia segura e acesso à informação ambiental são igualmente importantes. Essas ações conectam a pauta ecológica à luta contra as desigualdades sociais. É na resistência cotidiana que se constroem alternativas e se reivindica justiça ambiental.

A COP 30 pode reacender o debate ambiental global. No entanto, seus limites ficam evidentes quando confrontada com a realidade do modo de produção capitalista. Um modo de vida degradante para os seres humanos e a natureza. Também coloca em tela as condições de vida na Baixada Fluminense. A crise em cidades como Duque de Caxias e Belford Roxo se destaca. Ela mostra que a transformação exige mais do que acordos internacionais genéricos. Ela demanda políticas públicas integradas. Necessita de participação popular. Exige o enfrentamento das desigualdades históricas. Defender o meio ambiente requer garantir direitos sociais. Também está ligado à justiça territorial e à valorização das vozes das periferias da crise. E mais. Para preservar as condições de vida como a conhecemos é necessário a construção de uma sociedade socialista. Única forma de organização social que afaste a barbárie e preserve todos os biomas. Só assim será possível avançar rumo a um futuro verdadeiramente sustentável e inclusivo. Um futuro sem explorados e exploradores. Onde haja igualdade e solidariedade.