Rio de Janeiro, 23 de setembro de 2025 | Redação RJ
Nesse dia 23 de setembro o Presidente Lula discursou na abertura a Assembleia da ONU, em Nova Iorque. Uma parte de seu discurso abordou o massacre do povo palestino perpetrado pelo Estado de Israel. Lula condenou o genocídio cometido pelo estado sionista criado em 1948.
Não é a primeira vez que Lula define com essa palavra o massacre que ocorre na Faixa de Gaza. Nisso ele não está sozinho. A palavra genocídio não é mais uma questão de debate ou opinião quando se trata de Gaza. O que antes era descartado como um exagero gritado em protestos agora está sendo ecoado. Algumas das principais organizações de direitos humanos do mundo estão repetindo essa ideia. Especialistas das Nações Unidas também estão fazendo isso, assim como estudiosos do genocídio. A Associação Internacional de Estudiosos do Genocídio analisou o ataque de Israel a Gaza. A Comissão de Inquérito da ONU também fez a análise. Além disso, inúmeras ONGs locais e internacionais participaram da análise. Eles concluíram que ele preenche a definição de genocídio. A definição está sob a Convenção de 1948 sobre a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio. Esse é o tratado que define e proíbe legalmente o genocídio.
Israel pode tentar distorcer, negar ou desviar, mas não pode escapar do fato de que a história já registrou o que está acontecendo: Gaza está sendo destruída, seu povo sistematicamente bombardeado. A intenção de apagar a vida palestina está sendo documentada em tempo real. O novo holocausto invade as casas em todos os cantos do mundo.
Está gravado em fogo na história que o genocídio não para pôr compaixão por parte de seus executores. Em Ruanda, em 1994, os massacres foram identificados como genocídio em poucas semanas, mas nenhuma intervenção ocorreu até que a Frente Patriótica Ruandesa avançou militarmente para acabar com o massacre. Na Bósnia e Herzegovina, a limpeza étnica e os assassinatos em massa já estavam sendo descritos como genocídio em 1992, mas o civilizado ocidente ficou parado enquanto as atrocidades aumentavam, culminando em Srebrenica em 1995, onde mais de 8.000 homens, mulheres, meninos e meninas bósnios muçulmanos foram massacrados em uma “área segura” da ONU.
Em 2004, a região de Darfur, no Sudão, já era palco de um conflito de grande intensidade, conhecido como a “Guerra de Darfur”, iniciado em 2003, com ataques da milícia Janjaweed, apoiada pelo governo, contra as etnias Fur, Massalit e Zaghawa. Este conflito resultou em massacres, estupros, deslocamentos forçados e, em 2004, foi reconhecido pelos Estados Unidos da América como genocídio, embora o termo ainda fosse debatido internacionalmente. A ONU só obteve permissão para investigar os acontecimentos após intensa pressão internacional. A situação humanitária era alarmante.
A Convenção do Genocídio foi adotada em 1948 após o Holocausto nazista. Ela deve trazer consigo obrigações vinculativas. Essas obrigações não são apenas para punir após o fato, mas para prevenir enquanto o crime está em andamento. Prevenir significa agir: cortar armas, impor sanções, isolar diplomaticamente e bloquear a máquina de destruição de todas as maneiras possíveis. Nada disso está acontecendo. Em vez disso, os governos aliados de Israel continuam a financiar e armá-lo. Eles protegem Israel para que o crime prossiga. Alguns até homenageiam. Estendem tapetes vermelhos para seus líderes. A lacuna entre reconhecer o genocídio e detê-lo não é apenas hipocrisia; é cumplicidade. Uma cumplicidade que visa amealhar milhões de dólares no botim. Também no roubo de terras e riquezas naturais.
O que acontecer a seguir testará não apenas a bússola moral da sociedade humana mundial, mas também sua credibilidade. As classes dominantes podem cometer genocídio à vista de todos. A ONU e os principais estudiosos do mundo declaram isso como tal. Ainda assim, ele é permitido seguir seu curso. Então qual é o sentido de toda a ordem jurídica burguesa internacional? Qual é o propósito das convenções, tratados e instituições se eles são impotentes diante do extermínio em massa de seres humanos?
Este momento exige clareza: o genocídio dos palestinos em Gaza é uma questão de registro histórico. Mas o reconhecimento não é suficiente. Palavras não param bombas e declarações não alimentam crianças famintas. Os governos liberais capitalistas, incluso o governo de Lula da Silva, não estão dispostos a agir. Eles não querem impor embargos, sancionar, isolar ou intervir. Por isso, o reconhecimento do genocídio se torna mais uma piada cruel às custas de suas vítimas.
Não é possível acreditar na sinceridade de Lula. Também não se pode levar a sério a ONU e as classes dominantes que ela reúne. Para impedir que o holocausto palestino seja registrado na história humana, a classe trabalhadora deve intervir. Isso é necessário para evitar que ele seja escrito com seu próprio sangue.
Para estancar o morticínio de um povo oprimido, os trabalhadores devem seguir o exemplo. Eles devem se inspirar naqueles que lutam contra seus governos. Desde as primeiras horas dessa manhã (23), centenas de milhares de pessoas saíram às ruas. Isso aconteceu em mais de uma centena de cidades italianas. Lojas e escritórios públicos e privados estão fechados. Fábricas estão paralisadas. Transportes estão reduzidos ao mínimo ou bloqueados em muitos locais. Creches, escolas e institutos estão sem pessoal disponível. A mobilização foi massiva e generalizada, a «normalidade» foi temporariamente quebrada em praticamente todo o território italiano. Está em curso uma histórica greve geral dos trabalhadores contra o genocídio em Gaza.
Essa greve geral italiana fortalece a iniciativa da Flotilha Sumud rumo à Palestina. Nos portos de Génova, Livorno, Palermo, Trieste, Veneza e Civitavecchia, as manifestações causaram impacto. Elas conseguiram bloquear o tráfego de mercadorias durante várias horas. Em Bolonha, mais de cinco mil pessoas ocuparam a circular da cidade; em Florença, foram mais de dez mil. Em Turim, uma enorme manifestação percorreu as vias férreas entre as duas estações da cidade. Ela bloqueou completamente o tráfego ferroviário. Enquanto isso, em Roma, mais de cem mil pessoas ocuparam o centro da cidade. Durante algumas horas, eles também ocuparam a estação ferroviária de Termini. Algo semelhante aconteceu em Nápoles. A enorme manifestação ocupou a estação ferroviária durante uma hora. Depois, ela se dirigiu ao centro da cidade.
Contra a hipocrisia e ganância das classes dominantes, as manifestações dos trabalhadores derrubaram as fronteiras nacionais. Elas se espalham por todo o ocidente. Não só na Itália, mas na Alemanha, França, Reino Unidos e mais 44 países as mobilizações explodiram.
Estas mobilizações da classe operária no coração dos imperialismos e na sua periferia podem levar ao cessar fogo. Elas podem interromper o genocídio. Contudo o fim do Estado Sionista de Israel é uma tarefa dos operários israelenses. Eles terão que romper com o sionismo da burguesia e colocar abaixo esse estado colonialista e criminoso. A vitória será construída com uma unidade de ação de trabalhadores palestinos e israelenses. Essa unidade pode conduzir a construção de um Estado Socialista Palestino. Uma Palestina laica, democrática e socialista que garanta as tarefas históricas dos operários naquela região.

