Governos genocidas retiram saúde e vida

Em todo ano de 2019 e início de 2020, no Brasil, o número de assassinatos cometidos pela polícia chega a quase 12 mil vítimas. Uma taxa de quase três mortes por 100 mil habitantes em todo o território nacional. Os levantamentos e pesquisas feitas pelo Núcleo de Estudos da Violência da USP, incluindo dados divulgados  pela imprensa, confirmam uma deliberada política de extermínio da juventude negra (de 19 a 29 anos).

O Rio de Janeiro, segundo em vítimas da Covid-19 – a doença provocada pelo novo coronavírus – é a primeiro colocado na macabra estatística dos resultados do extermínio promovido pelo braço armado do estado.

Os números oficiais dão conta de quase 40 mil contaminados pela doença no Estado do Rio de Janeiro. Contudo há estudos, entre eles a pesquisa da Universidade Federal de Pelotas que afirmam que esse número pode ser multiplicado por sete em conseqüência da sub-notificação e ineficiência na testagem dos contaminados.

Em todo o estado já morreram quase quatro mil vítimas, segundo dados confirmados pelas autoridades de saúde. Contudo as chamadas “operações especiais” das polícias, nas comunidades carentes da capital do Estado, seguem promovendo sua pilha particular de corpos. Essas operações são de guerra contra uma população pobre e desarmada. Tanto é assim que na “guerra contra o tráfico de drogas” nas comunidades carentes houve uma redução de mais de 50% de mortes de policiais em enfrentamentos com os bandos do crime organizado.

Nessas últimas semanas (de 23 de março a 25 de maio) a Covid-19 fez 201 vítimas fatais nas 15 das mais de 20 comunidades carentes da capital carioca, segundo o Jornal Comunitário Voz das Comunidades. Nesse mesmo período ainda não sabemos o número total de assassinatos cometidos pelas polícias, mas já há algumas evidências como os 13 mortos do Complexo do Alemão no início da segunda quinzena de maio.

A violência da ação policial que resultou na morte do menino João Pedro Matos Pinto, de 14 anos, atingido por um tiro de fuzil na segunda-feira (18 de maio) enquanto brincava com dois primos dentro de casa, São Gonçalo. O local tem pelo menos 72 marcas de disparos. A contagem foi realizada por líderes comunitários da região. O adolescente negro morreu naquela segunda-feira durante uma operação conjunta das polícias Federal e Civil do RJ. O que mostra uma ação integrada dos aparatos policiais de Jair Bolsonaro e Wilson Witzel.

Na quarta feira (20), um jovem negro de 18 anos, identificado como João Victor Gomes da Rocha, foi morto. Durante uma ação policial na Cidade de Deus, Zona Oeste do Rio, no momento de mais uma operação de suposta “repressão ao tráfico de drogas”. Quando o jovem foi covardemente baleado voluntários pertencentes ao Movimento Frente CDD distribuíam 200 cestas básicas para moradores da comunidade, na região conhecida como Pantanal, como parte do combate ao novo coronavírus.

No dia seguinte, quinta-feira (21), também durante a distribuição de cestas básicas no Morro da Providência, localizado no centro do Rio de Janeiro, policiais assassinaram o jovem negro Rodrigo Cerqueira, de 19 anos, que trabalhava como ambulante na Rua do Lavradio. Uma jovem relatou ao Jornal Voz das Comunidades sobre o momento em que Rodrigo foi baleado. Segundo ela, ele estava com outros amigos quando foi atingido. “Ele estava sentado numa roda de amigos e a polícia chegou atirando.” Afirmou e continuou: “Quando o primeiro tiro pegou nele, todo mundo correu e só ficou (o) baleado.” Disse ainda: “Os policiais deram mais dois tiros nele, daí todo mundo se desesperou e os policiais foram fazer a remoção do corpo e não deixavam ninguém chegar perto. Ele ainda estava vivo, mas quando chegou ao hospital já se encontrava morto, os policiais estavam encapuzados, nem a mãe pode acompanhar (o filho) até o hospital”, completou.

Essa quantidade de assassinatos cometidos pelas polícias fluminense e federal causou grande comoção social e tornou-se um escândalo disputando espaço no noticiário com a pandemia do novo coronavírus.

No mesmo dia em que a propaganda oficial de Witzel anunciava que as operações das Polícias Civil e Militar seriam suspensas, nos momentos em que houvesse ações assistenciais nas comunidades, uma jovem foi baleada. O evidente atentado ocorreu na manhã desta segunda-feira, dia 25, na mesma Cidade de Deus, na Zona Oeste da capital. Bianca Regina Oliveira, a jovem negra de 22 anos, estava dormindo em sua residência, na localidade conhecida como Brejo, quando foi atingida por um tiro de fuzil na cabeça.

Os moradores das favelas e periferias do Rio de Janeiro, que vem enfrentando com muita dificuldade a pandemia em condições precárias – com a falta de serviços públicos básicos, como água e esgoto – ainda enfrentam o genocídio generalizado a partir das operações policiais e o terror praticado por agentes públicos armados. Esses atiram primeiro e perguntam depois.

Segundo previsão da Universidade de Washington o Brasil pode ter de 68 a 125 mil mortos até o início de agosto. Esse número depende do desempenho na tarefa de garantir o isolamento social. Aplicada a proporção de hoje, o Rio pode chegar, em agosto, com mais de 12 mil mortos. Esse número estimativo pode ser calculado levando em conta uma série de fatores médicos, hospitalares e sociais. Contudo o que não se pode prever é o número de assassinatos do genocídio orquestrado pelas polícias de Wilson Witzel e Jair Bolsonaro. Por isso, junto ao combate a pandemia do novo coronavírus e a solidariedade de classe, é necessária a auto-organização para a construção de uma greve geral que garanta uma quarentena financiada pelo estado, com salário e renda e para colocar na ordem do dia o Fora Bolsonaro e Mourão.

Por uma quarentena financiada pelo estado, com salário e renda

Fora Bolsonaro e Mourão