Violência policial e vulnerabilidade nas comunidades da Maré

Rio de Janeiro, 26 de novembro de 2025. Atualizado às 20:10 horas.

Operação da Polícia Civil, um menino de apenas 10 anos foi baleado dentro da escola. Imagem da CBN

Na manhã de 26/11/2025, um grave episódio de violência policial marcou a rotina da Escola Municipal Hélio Smidt, localizada no Complexo da Maré, Rio de Janeiro. Durante uma operação da Polícia Civil, um menino de apenas 10 anos foi baleado dentro da escola, provocando dor, revolta e indignação não apenas em sua família, mas em toda a comunidade escolar e local. A ação violenta obrigou professores, funcionários e alunos a se protegerem deitando-se no chão, enquanto projéteis cruzavam o ambiente escolar e um helicóptero sobrevoava a comunidade, transformando o local em uma verdadeira zona de guerra.

O episódio teve consequências diretas sobre o funcionamento da escola e de outros serviços públicos. Um disparo atingiu uma sala do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (CCMN) na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), levando à suspensão das aulas no campus do Fundão nos turnos da tarde e noite. Serviços de saúde e transporte também foram paralisados devido ao risco de morte causado por disparos de armas de guerra.

Além do adolescente alvejado dentro da escola, outras três pessoas foram assassinadas durante a operação. Segundo relato das forças policiais, essas pessoas seriam integrantes de uma organização criminosa ligada ao tráfico de drogas, e teriam enfrentado os agentes com disparos de armas de fogo. A Polícia Civil informou que agentes da Subsecretaria de Inteligência e da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) identificaram movimentação de traficantes fortemente armados, que planejavam invadir uma comunidade rival, resultando em confronto armado. A nota oficial afirma que “três narcotraficantes foram neutralizados, um criminoso foi preso, e armamentos foram apreendidos”.

Duas balas atravessaram o prédio da Faculdade de Matemática da UFRJ, no Campus do Fundão (RJ)  • Reprodução – Redes sociais

Apesar da gravidade dos fatos, o Ministério Público não se pronunciou publicamente até a edição desta matéria, tampouco solicitou a apresentação das provas que fundamentam as denúncias policiais sobre os mortos na operação. O único detido sob custódia deve ter garantido o direito à presunção de inocência antes de qualquer acusação formal.

A Polícia Civil afirmou que os três mortos seriam “narcotraficantes”. Familiares de Bruno Paixão, que seria um deles, afirmam que o rapaz trabalhava como vendedor de queijo e não tinha qualquer envolvimento com o crime organizado. Nas redes sociais, pessoas próximas a ele compartilharam imagens de uma kombi, que pertenceria ao homem morto, com diversas marcas de tiro e sangue. No interior, é possível ver uma carga de queijo. A família lamenta que, mesmo horas após a morte, não recebeu informações sobre onde está o corpo.

A escola alvejada está situada ao lado do 22º Batalhão da Polícia Militar, na localidade Nova Holanda. A Polícia Civil afirma que a operação ocorreu na Vila do João, outra comunidade do complexo. O episódio evidencia a extrema vulnerabilidade das comunidades diante das ações policiais. Crianças são expostas à violência armada. Há também o risco iminente de morte no ambiente escolar. A presença ostensiva de forças de segurança, com helicópteros e armamento pesado, transforma a rotina educacional e comunitária em um cenário de medo e insegurança, comprometendo direitos fundamentais à educação e à vida.

Este caso não é isolado, mas reflete uma dinâmica repetida nas periferias do Rio de Janeiro, onde operações policiais frequentemente colocam em risco a vida de moradores inocentes. O padrão de violência revela uma política de segurança pública baseada no confronto armado, negligenciando o cuidado com a população, especialmente crianças e jovens negros, principais vítimas desse descaso. A normalização da presença de helicópteros, tiros e agentes armados em espaços de educação expõe a sociedade à banalização da violência, perpetuando o ciclo de medo, insegurança e barbárie.

O intenso tiroteio suspendeu aulas, atendimentos de saúde e vias expressas na região. Foto divulgada pela @PMRJ.

Famílias vivem sob constante ameaça de operações policiais que, muitas vezes, resultam em tragédias como a que vitimou a criança na Escola Municipal Hélio Smidt. A dor e o medo se espalham por toda a comunidade, que enfrenta a interrupção abrupta do cotidiano e a sensação de insegurança permanente.

Analisando episódios recentes, como a chacina no Complexo da Penha, observa-se um padrão alarmante: a violência policial atinge de forma desproporcional crianças e jovens negros das periferias, evidenciando o descaso do poder público com essas vidas. Esses acontecimentos reforçam a necessidade de estratégias de segurança e autodefesa que realmente protejam e valorizem as comunidades vulneráveis.

A mobilização social é uma resposta coletiva à violência e à negligência enfrentadas diariamente pela classe trabalhadora. Movimentos sociais, sindicatos, entidades estudantis e coletivos de direitos humanos, quando unidos, ampliam a força das reivindicações por mudanças estruturais. É fundamental ocupar as ruas, as redes e os espaços institucionais para que as vozes das comunidades atingidas sejam ouvidas e respeitadas.

Um protesto aconteceu nas margens da linha amarela devido à morte de Bruno Paixão. Uma das vítimas fatais. A manifestação é resultado de uma operação policial no complexo da Maré que baleou uma criança e matou três jovens. Imagem da R7

A participação ativa de entidades de classe é determinante para pressionar o poder público. Os aparatos de governança do estado estão a serviço dos ricos e poderosos, exigindo a inversão dessa lógica por meio da luta por políticas que garantam justiça, proteção e respeito à vida. Somente com organização e solidariedade entre diversos setores da classe trabalhadora será possível romper o ciclo de violência e construir um país mais justo e igualitário para todos, rumo a uma sociedade socialista e à superação do estado para implantação do comunismo.